sábado, 27 de junho de 2015

Nova Ponte




Nova Ponte



Foi preciso que fizessem
outra ponte
a anterior não levava a lugar algum
se perdia em seu arco de pedra e e concreto
e não era bela
a
nova em contrapartida
é encantadora
faz o trajeto simples
como um sorriso
ou um botão
de um lado ao outro do rio
e dá espaço
para grandes embarcações passarem
no seu ponto mais alto
mas
se me perguntassem
eu a explodiria
em mil pedaços




terça-feira, 23 de junho de 2015

Crueldade





Crueldade



A crueldade
na tela espirrada em preto e branco
sombras pesadas de Lua
e duplicatas polaróides
livros sagrados
vende-se
vendas
para olhos fugitivos
derramamento de sangue
em murais muito reais
e coloridos
um corpo violado ignorado sob toldo de petróleo




sábado, 20 de junho de 2015

Lobo Próximo




Lobo Próximo



Tudo morto
caminhões de carne enlatada em locomotivas
te pergunto
se houve neve
sobre a grama
você diz que não neva
em terras tropicais
e dança
tento em vão mostrar
que uma fila nua
ainda congela
em vielas
laterais




terça-feira, 16 de junho de 2015

Batuque




Batuque





Escrevi com o dedo um samba no vidro
não era bom
um conjunto de rimas pobres
um refrão desencontrado
arranque de carros
transeuntes
rotatórias
queria fazer um samba sobre aquele dia na escada
mas acabei por criar uma caricatura
da mobília que eu imaginava
quando eu fazia planos
e você planejava a fuga




domingo, 7 de junho de 2015

Praça 2

Praça 2





As lojas fecham
em geral
as sete
mas antes
os faróis fomentam sombras artificiais nos flamoyants
e toda a praça parece perniciosa
me encanto com a luz fria dos postes em torno
eu descansaria aqui se os bancos
não fossem tão frios
crianças correm sem cansaço
ainda
rabisquei um verso que a memória não acessa
levanto porque tenho compromisso
faço isso rápido para afogar um passo de dança

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Praça

Praça




Escuto o roçar
cheio de palavras
das patas dos pombos na praça
em volta do milho
velho
entornado a terra pelo pipoqueiro
nada disto
é símbolo para além do átomo
entretanto insiste um história
em cada ladrilho
cinza branco preto
a verdadeira crônica dos passosa
que conjugam em si a insignificância
colorida
do dia

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sinopse



Sinopse




A cor cintila caminho no centro
entre pequenas montanhas
ressecadas
uma fonte de água
para um romance corroído
perseguição e morte
longe dos semáforos futuros
tiros extemporâneos
a terra arde

em letra de imprensa
teu nome estouraria a tela
sem sombra de
dúvida







quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crônica 2




Crônica 2




O sinal acende
retas retornos
vias de mão dupla congestionadas
às três da tarde
para todos
sem exceção subordinados
a vontade da polis

minha rua hoje é de paralelepípedos
cobriram o barro
puseram pedrinhas
e eu acho bonito olhar pela tela
os desertos das peles
se encontrando
sem
razão

consertei os óculos
mas não consigo ver com clareza
tenho um rosto tatuado nas retinas





terça-feira, 2 de junho de 2015

Crônica




Crônica



Limpador de para-brisas para
enxergar melhor as lanternas
que piscam
indicando destinos curvas paradas suaves
bruscas
um canto pela máquina
o automóvel
através do retrovisor
faz todo o sentido

fizeram crescer a cidadezinha
hoje ela parece uma roupa mal cortada
enxertos de aço sobre a mornidão
desejo em argamassa
potencialmente destrutivo
uma hora
explode

uma certa sede
lateja no fundo da jarra
vazia
e na verdade eu não tenho por que
pedir perdão




segunda-feira, 1 de junho de 2015

Criação

Criação




Basta que se repita
necessariamente umas tantas vezes
para que se crie uma crível palavra
que viajará do lábio ao ouvido
e na garganta e no tempo

só amei mesmo em novembro
me lembro
é claro
dos dias ensolarados mas que reservavam
à tarde
um vento frio
que seria
talvez
anúncio de um janeiro chuvoso

basta que se esbarre
no crivo cúmplice da memória crápula
para que se escape da camisa e do incenso
e se deite novamente
nos braços da cadeira de ferro
que fazia um barulho nitidamente impróprio
quando eu olhava pra você